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Fontana di Trevi - réplica serrana  - Fotografia: Henrique Vieira Filho

Neste artigo para o Jornal O SERRANO, Henrique Vieira Filho comenta sobre a réplica da Fontana Di Trevi, em Serra Negra, e as polêmicas sobre as releituras e reproduções de obras de arte e monumentos históricos, inclusive, as réplicas da estátua do Cristo Redentor.

Publicado resumido no Jornal O Serrano, Nº 6310, de 24/06/2022

Primeiro, minhas sinceras desculpas, pois fraguei minha injustiça ao estranhar os rostos angelicais quando visitei a “Exposição Fontana Di Trevi Em Serra Negra”.

Esperava uma réplica (cópia idêntica) do monumento italiano, sendo que lá estava algo de maior valor artístico: uma releitura, ou seja, um novo original, em que os artistas esculpiram sua própria versão da obra, com seus toques e estilos pessoais. 

A grande maioria sabe apreciar artistas e bandas “cover” ( palavra inglesa, mas de origem francesa – “couvert”: “cobertura de mesa”, “aperitivo”).

Afinal, de que outra forma a praça, que é nossa e nos dá alegria, conseguiria as presenças de Freddie Mercury, Rita Lee, Tim Maia, Legião Urbana, dentre outros?

Se no campo musical a aceitação é pacífica, no que se refere a esculturas históricas, a polêmica é grande. 

Por exemplo, o Egito e a UNESCO consideraram a cópia chinesa, em tamanho real, da Esfinge de Gizé, como uma ofensa ao patrimônio histórico e cultural.

Para as famosas réplicas de monumentos em Las Vegas, costumam aplicar um adjetivo de origem alemã: “kitsch” (“brega”).

O filósofo Friedrich Nietzsche considerou que este tipo de vulgarização estimulou a mediocridade. Já seu colega inglês, Roger Scruton, chamou o fenômeno de “Disneyficação da arte”.

Sinceramente, vejo um certo “ranço elitista” neste tipo de crítica. 

Afinal, as reproduções e adaptações de obras de grandes mestres podem trazer ao público a oportunidade de experiências imersivas nas artes, com emoções que antes só estavam disponíveis a “bolsos” com maior poder aquisitivo.

Quem garante que todo visitante do Louvre, observando a Mona Lisa, ofuscada por um grosso vidro protetor, acotovelado por centenas de pessoas, sairá com sua alma mais esclarecida do que a pessoa que aprecia um pôster da mesma Gioconda, na tranquilidade do lar? 

Considerando os prós e contras acima, acredito que a réplica da Fontana di Trevi será bem-vinda. 

Afinal, aqui no Circuito das Águas, já apreciamos as nossas estátuas do Cristo Redentor, todas reproduções da original carioca e, nem por isso, menos queridas.