Neste artigo para o Jornal O SERRANO, Henrique Vieira Filho apresenta uma divertida ficção na qual o Saci reúne os personagens do folclore brasileiro para fazer frente ao Halloween, além de incluir o fato histórico de que o pintor Cid Serra Negra pintou anjos Saci, negros e indígenas na igreja de São Benedito, em Serra Negra / SP
Publicado resumido no Jornal O SERRANO, Nº 6328, de 28/10/2022
DOI: https://doi.org/10.5281/zenodo.7264906
Saci pintado como Querubim na Igreja de São Benedito, de autoria de Cid Serra Negra.
Fotografia: Henrique Vieira Filho
Eram os anos 2000 e, com a proximidade da véspera do Dia de Todos os Santos (“All Hallows Even” – “Halloween”, para os íntimos), o Saci convocou Caipora, Curupira, Boitatá, Cuca e todos os demais ilustres membros do Olimpo Tupiniquim para uma reunião.
Em pauta, quais providências tomar para brecar o imperialismo cultural americano de continuar a nos exportar suas lendas, em detrimento das genuinamente nacionais.
A Cuca tomou a palavra, afirmando que a solução é investir em propaganda, destacando que, depois que contratou Monteiro Lobato e uma importante emissora de televisão, cresceu muito a sua popularidade.
Lembrou, ainda, que fez campanha junto à classe política e vários projetos de lei proclamaram 31/10 como sendo o “Dia Do Saci”, para valorizar a cultura brasileira.
O Saci agradeceu tamanha honra e pontuou que apropriar-se da data americanizada trata-se de um revide na “mesma moeda”: afinal, até o símbolo máximo do Dia Das Bruxas, a abóbora do “Jack O’Lantern” foi usurpada da Irlanda, onde o morto que foi recusado tanto pelo céu, quanto pelo inferno, andava pelas noites, com uma vela acessa dentro de um nabo.
Artwork: “Birth Of The Saci” (O Nascimento Do Saci) –
Artist: Henrique Vieira Filho
Continuando seu discurso, Pererê pontuou que trata-se da mesmíssima história do nosso conterrâneo Corpo-Seco, também conhecido como Bradador e Unhudo: coincidência ou mais um plágio dos imperialistas?
Emocionado, Saci destacou que não é de hoje que o “europeamento” dos mitos acontece, lembrando do caso clássico dos querubins, que, segundo Ezequiel, tem quatro rostos, dois pares de asas e pés de bezerro, mas, são retratados como se fossem Cupidos jovens!
Como forma de protesto, Pererê contratou o pintor Cid Serra Negra, que brilhantemente adornou a Igreja de São Benedito (Serra Negra/SP), onde, quem tiver olhos atentos, pode se encantar com anjos negros, um querubim indígena e outras “brasilitudes”, tudo sob a supervisão atenta do presidente de honra de nosso folclore! Viva o Dia do Saci!
Assista ao vídeo sobre a tela “O Nascimento do Saci”: https://www.youtube.com/watch?v=JHrZjhKGFgI
Em tupi-guarani, “perereca” é designação para tudo que se locomove aos saltos. Já o termo “saci” é uma onomatopéia, ou seja, uma palavra idêntica ao som a se descrever, no caso, o canto (que também é seu nome…) de um certo pássaro muito arisco, difícil de ser visto, fácil de ser ouvido, enquanto exclama, continuadamente: _ “Sa.. ci… sa…ci… sa…ci…”.
Cite as: HENRIQUE VIEIRA FILHO. (2022). O Saci Chutou A Abóbora E Foi À Igreja. O serrano, CXIV(6328). https://doi.org/10.5281/zenodo.7264906