Neste divertido artigo, o Artista Visual e Psicanalista, Henrique Vieira Filho, trata do sincretismo de tradições culturais anglo-saxãs, com a Deusa Ostara, da judaíca, com a “Pessach”, chegando à Páscoa cristã com os ovos de cacau sagrado maia e asteca.
Publicado resumido no Jornal O Serrano, Nº 6298, de 01º/04/2022.
DOI: https://doi.org/10.5281/zenodo.6409673
Óleo sobre tela: Deusa Ostara, enraizada na primavera, ladeada por ovos Fabergé e coelhos origamis
E Coelho Bota Ovo?
Sim, bota ovo SE ele for vítima das brincadeiras da deusa Ostara!
Para divertir crianças, transformou uma ave em coelho e este presenteou com ovos coloridos.
Também conhecida como Eostre, é a milenar deusa primaveril anglo-saxã, origem das tradições de coelhos e ovos, símbolos da fertilidade.
Por isso, até hoje, a Páscoa e os ovos são chamados, respectivamente, de “Ostern” e “ostereier” (em alemão) e “Easter” e “easter eggs” (em inglês).
No hemisfério norte, a Páscoa ocorre no início da primavera, o que simplificou a migração desta tradição “pagã” para a cristã, por meio do Concílio de Nicéia, em 325 dC, que unificou a celebração da ressurreição de Cristo.
Comemorada no primeiro domingo após a lua cheia do final do equinócio (quando o dia e a noite têm a mesma duração) de primavera, era a data de Ostara e “coincide” com a “Pessach” (do hebraico; significa “passagem”), tradição milenar que celebra a libertação dos hebreus.
Com o tempo, a ornamentação dos ovos passou a incluir imagens de Jesus e Maria.
Membros da realeza europeia providenciaram versões em ouro incrustado com pedras preciosas.
Surgiram variações em madeira, porcelana, vidro e metal, com surpresas em seu interior, peças estas que serviram de inspiração para os famosos ovos Fabergé.
Para o povo, opções singelas, nas quais os ovos recebiam recheios doces, inclusive, o chocolate, o qual, graças à evolução da culinária francesa, chegou ao século 19 substituindo integralmente até a casca.
Em mais uma miscigenação cultural, devemos isto aos maias e astecas, com seu “alimento dos deuses”: o Theobroma cacao (Theo = deus; broma = alimento; cacao = cacahualt – nome regional do fruto).
O cacau era sua moeda para trocas, sendo daí a origem de uma moderna gíria brasileira.
Quando Cristóvão Colombo chegou à região do atual México, os nativos vendiam coelhos por 10 sementes de cacau. Se ele fosse comprar, nos dias de hoje, 01 kg de ovo de Páscoa, teria que desembolsar umas 50 sementes!
Com o preço atual, nem Colombo consegue colocar o ovo em pé!
Making of – Processo criativo para a pintura.
Modelo: Andreia Saito – Fotografia e artes: Henrique Vieira Filho
Cite as
VIEIRA FILHO, Henrique. (2022). Miscigenação de nossa Páscoa: Pessach, Deusa Ostara e Cacau Maia. O Serrano, CXIV(6298). https://doi.org/10.5281/zenodo.6409673 / https://artivismo.com.br/miscigenacao-de-nossa-pascoa-pessach-deusa-ostara-e-cacau-maia